sexta-feira, 6 de março de 2015

Os elementos básicos da comunicação visual - Proj #1

Como já tinha referido no post anterior, nesta publicação vou falar sobre os elementos básicos da comunicação visual.
Tudo é formado a partir de alguns elementos visuais básicos: o ponto, a linha, a forma, a direcção, o tom, a cor, a textura, a dimensão, a escala e o movimento. Estes elementos básicos são as partes que constituem o todo – um objecto, acontecimento, etc. Para analisarmos e conhecer-mos o todo de modo mais consistente temos então que decompô-lo e considerar, de modo isolado, cada uma das suas partes. 
A escolha dos elementos é realizado tendo em consideração o objectivo do artista e, nesse sentido, pode-se afirmar que as suas opções são infinitas. Isto porque cada um dos elementos, por si só, tem um poder imenso no que toca à transmissão de ideias e ideais e é exactamente isso que apresento a seguir: 


Comecemos pelo PONTO. Esta é a unidade mais simples, necessária e irredutível da comunicação visual. Diversos pontos ligados entre si são capazes de guiar a visão. 

Este é utilizado pode criar a ilusão de cor ou tom.
“Num papel vazio, temos a sensação de estar sempre procurando algo, como se nossos olhos buscassem um lugar para se deterem. Um pequeno ponto já nos leva a soltar nossa imaginação e viajar. Isso sem dizer também que é com ele que tudo começa, ou seja, ao tocarmos o lápis no papel, antes de qualquer outro movimento, num simples contacto, encontramos um ponto. Trabalhamos com ponto, podemos obter efeitos de luz e sombras, volume ou profundidade.” (1)
Exemplo de pontilhismo por Paul Signac

Quando os pontos estão tão próximos entre si de modo a que se torna impossível distingui-los individualmente forma-se a LINHA. Esta também pode ser definida como um ponto em movimento. A linha reforça a liberdade de experimentação sendo um meio de apresentar “aquilo que ainda não existe, a não ser na imaginação” (2)
Este elemento de comunicação é livre, flexível, sóbria, tendo um propósito e direcção. 
Este é o elemento visual por excelência pois basta alterar ligeiramente a sua forma para expressar intenções completamente distintas. Nesse sentido, ao desenharmos uma linha de modo aleatório podemos representar a indisciplina, espontaneidade ou até o nervosismo. Já ao desenharmos uma linha horizontal provocamos a impressão de repouso; uma linha curva transmite a ideia de movimento, instabilidade e alegria, e linha recta produz uma sensação de tranquilidade, de segurança e estabilidade. É, acima de tudo, absolutamente incrível o poder e o valor que está por detrás de uma simples linha (que de simples acaba por ter muito pouco).


O uso de linhas por M.C. Escher
A FORMA é o segundo elemento mais usado no design, a seguir ao ponto, sendo um agregado de linhas combinadas para formar um novo elemento. Em "Sintaxe da linguagem visual", Dondis (1997) afirma mesmo que a linha descreve uma forma, ou seja, a linha é que articula a complexidade da forma, sendo que existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Estas têm em comum o facto de serem planas, simples e de ser “a partir de combinações e variações infinitas dessas três formas básicas” (2) que surgem as formas da natureza e da imaginação humana. Segundo FISCHER pode-se até definir “a forma como conservadora e o conteúdo como revolucionário”.


Estas 3 formas básicas  expressam ainda três DIRECÇÕES visuais também elas básicas: a horizontal, a vertical, a diagonal e a curva. Todas estas permitem criar mensagens a nível visual devido ao seu amplo significado. Neste sentido, a direcção horizontal-vertical está associada ao bem-estar, à estabilidade  e à necessidade, inerente ao homem, de procurar o equilíbrio; a direcção diagonal está também associada à estabilidade e ao ameaçador; por fim, a direcção curva está associada à abrangência e à repetição.



O TOM está ligado ao facto de a luz (que circunda os sistemas incidindo sobre objectos que têm claridade ou obscuridade relativa ) se irradiar de modo não uniforme na Natureza. Quando observamos os tons na Natureza vemos então a verdadeira luz pois nesta, entre o claro e o escuro, existem centenas de gradações.  Essas gradações fundamentadas na relação que existe entre a luz e a sombra constituem o tom que, por sua vez, é um dos melhores instrumentos para expressar a dimensão dos sistemas e dar uma ilusão convincente da realidade. O círculo, por exemplo, sem informação tonal nunca iria parecer que possui dimensão de qualquer tipo. 

“O valor tonal é outra maneira de descrever a luz. Graças a ele, e exclusivamente a ele, é que enxergamos” (2)
O tom

O tom é uma representação monocromática que permite substituir a COR. A cor está repleta de informação estando muito ligado às emoções. Esta oferece um vocabulário enorme tendo 3 dimensões : a matiz ou croma (a cor em si existindo 3 matizes elementares: amarelo, vermelho e azul), a saturação (é a pureza relativa de uma cor do matiz ao cinza, contemplando as matizes primários e secundários), e a acromática (é o brilho das gradações tonais, permitindo obter cores mais claras/escuras).
“(…) Revelamos muitas coisas ao mundo sempre que optamos por uma determinada cor.”(2)
Tahitian Landscape - Paul Gauguin - www.paul-gauguin.net
Paul Gauguin e a sua obra "Tahitian Landscape" como um exemplo do poder que a cor pode ter.

A TEXTURA é uma forma de se substituir o tacto. Onde há uma textura as qualidades tácteis e ópticas coexistem.
Der Kuss 1908
"The kiss" é um exemplo de como textura pode substituir o tacto e foi criado por Klimt


A ESCALA, por sua vez, pode ser estabelecida através do tamanho relativo dos objectos, mas também através das suas relações com o campo ou com o ambiente. A nível de escala, os resultados visuais estão sujeitos a muitas variáveis modificadoras. Nesse sentido, mais importante que a medida é aquilo que se encontra ao lado do nosso objecto visual.



A DIMENSÃO, por sua vez, está relacionada com a ilusão dependendo desta. Isto porque, se tivermos em consideração representações bidimensionais da realidade (uma pintura por exemplo) não existe uma dimensão real, mas sim ilusória que é criada, por exemplo, a partir da manipulação de tons. Tendo em consideração o anteriormente referido, é óbvio que é a perspectiva que predomina quando observamos uma fotografia ou desenho e “vemos” dimensão neste. Essa perspectiva é então usada e manipulada pelo artista.



Por fim, o MOVIMENTO, como acontece com a dimensão, encontra-se mais frequentemente de  modo implícito do que explicito. Isto ocorre porque existem diversas técnicas, como já foi anteriormente referido, que enganam o olho, criando a ilusão do movimento.  Acima de tudo, “o milagre do movimento como componente visual é dinâmico” (2)

Para concluir, e utilizando as palavras de Donis Dondis, quero apenas salientar que “o visual tem a velocidade da luz, e pode expressar instantaneamente um grande número de ideias” (2). Nesta perspectiva, o importante a reter é que a linguagem visual não conhece fronteiras nem barreiras, não tem limites nem entraves, sendo livre e ilimitada. 


(1) - BUENO, L. E. B. Linguagem das artes visuais. Curitiba: Ibpex, 2008 p.24-25
(2) - DONDIS, Donis. A Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes. 1991

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